Amor em Istambul - Capítulo 3

quinta-feira, 2 de junho de 2016


Capítulo 3


No dia seguinte, Murat foi à casa do avô como havia prometido. deixou a irmã e a prima em Sultanahmet e seguiu para Üsküdar.

Chegando lá, encontrou o avô à sua espera na varanda. Cumprimentou-o levando a mão do patriarca à sua fronte.

- Sente-se, Murat. - convidou o Mustafá.

Ele se sentou e ouviu-o dizer:

Amor em Istambul - Capítulo 2



Capítulo 2



Murat tinha razão, estava mesmo sendo um longo dia. No momento do intervalo entre as aulas, Derya e Ayla foram até a cantina tomar um chá-preto. Murat se aproximou com mais dois amigos e colocou o celular de Derya em cima da mesa.



- Ah! Meu celular, que saudades! - disse Derya.


- Por que você estava com o celular dela? - perguntou Ayla, confusa.


- Peguei ontem para evitar que ela contasse a você que estávamos de partida.


- Nossa! Não sabia que você poderia ir tão baixo, Murat. - falou, indignada.


- Mais baixo do que você, falsificando um atestado? Acho que não.


Dizendo isso, afastou-se com os amigos e Derya falou:

Amor em Istambul - Capítulo 1



Capítulo 1



- Günaydın. - disse Ayla.


- Günaydın - respondeu Murat, seu primo. - Sente-se, vamos tomar café da manhã juntos nem que seja por uma única vez ao ano.


- Ah! Por favor, deixe de drama! - pediu Ayla, sentando-se e admirando a bela paisagem.


Istambul, o berço da civilização. Com seus quase dois mil anos de história, encantava até os mais experientes viajantes.


Ayla nascera em Istambul. A vida toda vira aquela paisagem pela manhã e mesmo assim não se cansava de tanta beleza.


Morava em um bairro chamado Ortaköy, muito frequentado principalmente à noite por possuir cafés, bares e restaurantes, tudo em frente ao Bósforo, estreito que liga o Mar Negro ao Mar de Mármara e que “e” marca o limite dos continentes asiático e europeu.


- Terminou? - perguntou Murat, que a observava.


- Sim, vou pegar minha bolsa.


- Estou lhe esperando no térreo.


Ayla morava em uma casa estilo otomano com três andares, tudo muito bem dividido. No térreo, a garagem e um terraço. No primeiro andar, a sala de estar, a lavanderia e a cozinha de inverno. No segundo andar, os quartos. No terceiro andar, a cozinha de verão, uma suíte, um escritório, uma pequena sala e uma linda varanda, onde faziam suas principais refeições.


Encontrou o primo a aguardando na garagem. Ayla cursava engenharia e ele, medicina na Universidade de Istambul. Murat morava com os pais em Sultanahmet, um dos bairros mais tradicionais de Istambul, porém só voltava para casa nos fins de semana. Durante os outros dias, ficava com seus tios, já que era o responsável por Ayla e outros dois, Derya, irmã dele, e Ozan, seu primo, que morava com o avô e a mãe no lado asiático de Istambul.


A família de Ayla tinha esse costume. Na juventude, o homem mais velho cuidava dos mais novos; esse era o "cargo" de Murat. Cuidar não é bem a palavra certa. Murat a controlava, obrigava-a a fazer atividades que ela não queria, e a seguir regras e horários. Tudo isso com o aval de seus pais e, claro, avô. O patriarca era extremamente rígido e o que ele dizia nunca era contestado.


Ayla não era mais criança, tinha vinte anos e sabia se virar sozinha. Nunca gostou de ter Murat controlando seus passos, mas tinha sido assim desde que ele completara a idade necessária para se tornar tutor. Ayla tinha nove anos quando recebera a notícia que, além de seus pais, ela também devia satisfação e obediência a Murat, então com quatorze anos. Hoje com vinte e quatro, ele pouco lembrava o garoto alegre e sorridente que era na infância.


Murat fora adquirindo responsabilidades com o tempo. Muito cobrado por seu avô na educação dela e dos outros, ele tinha se tornado implacável no cumprimento das regras. Ela já havia perdido as contas de quantas vezes teve discussões por conta disso. Ela adorava quebrar regras e ele adorava segui-las.


Chegando à universidade, Ayla seguiu para seu curso e encontrou sua prima no corredor. Derya cursava pedagogia e era o orgulho do seu avô já que tem tudo o que uma mulher deve ter na opinião dele. A prima era meiga, calma, estudiosa, obediente e interessava-se por assuntos femininos, como culinária e bordado; um dia dará uma ótima esposa. Diferente dela, Derya não precisa de assistência vinte e quatro horas já que segue tudo que Murat dita sem questionar.


- Olá, moça bonita - disse Derya, dando um grande abraço na prima.


- Olá, sexy - retribuiu Ayla.


- Se Murat ouve você falando assim... - alertou-a.


- Quem liga para o chato do seu irmão? - deu de ombros - Trouxe o que pedi?


- Claro! Se não trouxesse, você me mataria! – disse, dramática.


- Ainda bem que você sabe. Daqui a quinze minutos. nós encontramos lá fora, tem muita gente aqui e não quero testemunhas.


- Tem certeza que você quer fazer isso, Ayla?


- Toda certeza desse planeta.


Seguiram para suas respectivas salas e, após a aula, encontraram-se no jardim da universidade, como tinham combinado. Vários estudantes se espalhavam pelo local.


- Venha! - chamou Ayla, saindo de perto de um grupinho que conversava animadamente.


- Aqui está! - disse Derya, entregando um papel nas mãos de Ayla - E nunca mais me peça nada. Tive que comprar um óleo perfumado caríssimo para que a Gulsen pedisse ao irmão que assinasse isso e estou me sentindo uma criminosa. Não quero nem imaginar se Murat descobrir, ele vai arrancar nossas cabeças e jogar no fundo do Bósforo.


- Deixe de drama, Derya, ele não vai saber! - falou Ayla toda feliz, olhando para o papel em suas mãos.


Tinha pedido a Derya que conseguisse um atestado de consulta médica para entregar ao professor e ser liberada da aula. Iria para Avenida İstiklal, o centro de compras e lazer mais famoso de Istambul, e iria sozinha, sem as rédeas de Murat.


Que maravilha, pensou ela.


Derya e Ayla não costumavam sair sozinhas, mais uma regra da sua conservadora família. Murat sempre estava ao lado delas ou ficava de longe, observando-as. Às vezes, ela conseguia escapar. Na calada da noite, já se encontrara com suas amigas para ir a uma boate ou a praça apenas para conversar. Já fora pega chegando em casa pela manhã e teve que contar ela mesma aos pais, que fizeram um discurso de como era perigoso uma jovem sair sozinha à noite, mas geralmente não eram muito severos nem tão conservadores quanto seu avô.


Ela sabia que não era dócil, às vezes, perguntava-se de quem havia herdado todo esse gênio. Seu avô sempre dizia que ela parecia com uma irmã dele que já havia falecido, geniosa e caprichosa. Ele quem tinha escolhido seu nome, assim como os dos outros netos. Seu avô achava seus pais muito tranquilos, então ele lhe dera um nome forte para balancear a família; os turcos tinham esse tipo de superstição.


O avô dizia que se pudesse, voltaria no tempo para escolher outro nome para ela, pois esse não teve o efeito esperado. Ayla é um nome hebraico, que quer dizer carvalho e, assim como a árvore, ela era difícil de "derrubar". Quanto mais tentavam controlá-la, mais desafiadora se tornava. Sabia que seu avô Mustafá a amava e preocupava-se muito com ela, mas sempre agia com mais firmeza quando as decisões se tratavam da vida de Ayla. Ela sabia convencer aos pais e, algumas vezes, ao seu primo, mas o seu avô não facilitava.


Ayla entrou na sala de aula e falou com o professor, mostrando o documento assinado de que ela teria consulta médica naquele dia, então ele lhe deu uma liberação por escrito, que ela entregou na portaria e saiu se sentindo muito feliz. Ninguém iria estragar aquele dia.






Murat estava concentrado em sua atividade de biologia quando seu amigo de sala se sentou a seu lado, perguntando-lhe:


- Você e Ayla estão mal outra vez?


Sem desviar a atenção do que fazia, ele respondeu:


- Qual o dia que não estamos? – curioso, olhou para o amigo - Mas por que a pergunta?


- Por que ela acabou de passar pela portaria sozinha!


Murat fez cara de surpreso. Não acreditava que ela tinha aprontado mais uma. Pediu licença ao professor e foi à sala de Ayla. Olhou pelo pequeno vidro da porta e constatou que ela não estava lá. Pegou o celular e ligou para ela, que não atendeu. Lembrou-se de Derya. Se alguém sabia onde ela poderia estar, era sua irmã. Subiu as escadas já discando o número. Ela atendeu, falando baixinho:


- Irmãozinho, eu estou na aula, não posso falar!


- Saia! Eu já estou no corredor.


Derya levantou-se já sabendo que vinha bomba por aí. Encontrou o irmão furioso:


- Onde ela está? - perguntou sério.


- Ela quem, Murat?


- Ayla! - disparou - Não se faça de boba, Derya, ela não está no campus, saiu e eu sei que você sabe para onde ela foi!


- Ela não está no campus? - fez cara de surpresa - Quem te disse essa bobagem? Claro que ela está! Deve ter ido ao toalete. Por que você não liga para ela e pergunta?


- Derya! - disse Murat, aumentando o tom da voz e fazendo-a perceber que ele não iria descansar enquanto não soubesse onde Ayla estava. Droga, sabia que aquilo não daria certo, mas não poderia entregar a prima, senão seria uma mulher morta, porém, se não entregasse, também seria morta por Murat. Que situação, pensou, nervosa.


Murat percebeu que Derya estava hesitante, com certeza não queria entregar a prima e melhor amiga, então ele decidiu agir com sabedoria:


- Você não vai me dizer para onde ela foi?


- Eu já disse que não sei, Murat, e você está atrapalhando minha aula!


- Certo, não vou mais tomar seu tempo. Preciso ligar para o


o nosso pai papai, ele vai saber como encontrá-la.


Derya gelou. Se seu pai soubesse que Ayla tinha saído sozinha e com ajuda dela, seria o fim para as duas.


- Espere! - gritou.


Murat virou e ela se aproximou:


- Você não precisa fazer isso. Ela vai voltar logo, só foi resolver um problema. – disse, pronta para enfrentar a fúria do irmão sobre ela também.


Ele a olhou desconfiado e chateado com as "traições" frequentes da irmã. Tirou o celular de suas mãos.


- Ela terá um problema muito maior quando voltar! – disse, virando-se de costas e falando - E você também não vai escapar dessa, Derya - descendo as escadas, ele se foi.


Já de volta à aula, ele não conseguiu mais se concentrar. Estava furioso com Ayla. Não entendia seu comportamento pouco adequado. As outras jovens eram tão diferentes dela, sempre meigas, tranquilas, obedeciam aos pais, interessavam-se por assuntos femininos como costura, cozinha, artesanato... Mas ela era muito diferente. Gostava de festas, odiava crochê ou qualquer trabalho artesanal, não tinha medo de sair sozinha, era teimosa, sempre tinha uma opinião e uma resposta.


Ayla não perdia a chance de desafiá-lo e não gostava de receber uma negativa em resposta. Certa vez, eles estavam em uma comemoração de família quando, apesar das restrições, Ayla saiu do local. Murat procurou por ela em todos os lugares sem sucesso, até que um amigo lhe disse que ela estava em outra festa. Tinha saído de lá com alguns amigos do colegial. Eles estavam passando e convidaram-na. Ela, então, seguiu com eles.


Murat, sem saber o que fazer, contou ao pai e ao avô o que ela fizera. Eles foram buscá-la, deram-lhe uma bronca das grandes, compararam ela às outras moças, dizendo-lhe que ela sempre era inadequada aos padrões e, junto dos pais dela, decidiram trocá-la de escola para que ela não tivesse mais contato com esses amigos que julgavam ser más influências para a já tão rebelde garota.


Na época, Ayla ficara desolada e chorara muito. Para uma adolescente de dezesseis anos, aquilo era um duro golpe; a atitude da família a ferira muito. Cortaram sua comunicação com Derya e com seus outros amigos. No começo, ela se fez de forte, mas passando uns dias, começou a reclamar da nova escola e da falta que sentia da prima, mas sempre era repreendida. Ouvia tudo calada, mas se trancava no quarto e chorava muito.



Murat sempre ouvia o choro de Ayla já que seu quarto era ao lado do dela. Sentira-se culpado. Desde então, ele decidira que só levaria um problema com ela ao avô em último caso, quando já não tivesse esperanças de lidar com a situação. Muitos problemas surgiram desde os dezesseis anos de Ayla; cada dia ela parecia estar mais independente, ou, pelo menos, tentava ser. Ele não achava aquilo ruim: uma mulher tinha que saber se cuidar, mas regras são regras e não questionava as decisões de seu avô, que sabia bem o que estava fazendo. Ele tinha muito mais experiência do que eles, sabia bem mais sobre a vida.






Ayla se divertira muito. Entrara em várias lojas, comprara tudo o que queria, ficara encantada com as promoções. Tomou um café olhando as pessoas que andavam apressadas. Por onde passara, recebera olhares masculinos. Sem Murat, as coisas eram diferentes, muito diferentes - riu do seu pensamento, chamando mais ainda a atenção de um rapaz que estava sentado em outra mesa, observando-lhe.


Ele pediu que o garçom lhe entregasse um guardanapo onde havia escrito: "Mashallah! Sen çok güzelsin" e o número do telefone para que ela ligasse. Bem, infelizmente já estava na hora de voltar à realidade, voltar para o cárcere.


Ela ainda não tinha pensado no que fazer com aquele monte de sacolas. Não poderia entrar na sala de aula e muito menos encontrar com Murat. Planejou tudo menos a volta; devia ser por que ela realmente não acreditara que aquilo daria certo, que seu tutor não fosse descobrir o que ela tinha feito.


Passou todos os minutos de sua restrita liberdade esperando ele aparecer e arrastar-lhe de volta para casa, pois era isso que sempre acontecia quando ela "aprontava". Ela não era boa de fuga e sua cúmplice não era boa com segredos, então...


Decidiu chamar um táxi e ir para casa. Seus pais estavam trabalhando, só chegavam em casa à noite. Ayla colocou tudo no armário do seu quarto e olhou o relógio. Ela tinha uma hora para voltar à Universidade e fazer o belo desfecho do seu plano. Chegou faltando vinte minutos para que todos saíssem. Entrou na sala de aula e foi para o seu lugar. Três horas de liberdade não tinham sido suficientes, mas já era alguma coisa.


Quando saiu, foi para o mesmo lugar de sempre esperar por Murat e os primos, mas eles não apareceram. Ayla ligou, mas nenhum deles atendeu. Foi às salas e tudo estava vazio. Ficou preocupada. Será que tinha acontecido algo em sua família e eles não puderam esperar por ela? Pensou em seu avô já que era a pessoa mais idosa da família. Decidiu, então, pegar outro táxi para voltar. Olhou na bolsa e viu que tinha deixado a carteira em casa junto das sacolas. Entrou em pânico.


- Não acredito! Que burra eu sou.


Como não tinha muito que fazer, foi andando para casa. Era longe, mas era o jeito. Depois de uma hora e meia caminhando, ela finalmente chegou em casa, exausta e pronta para morrer. Encontrou Murat no primeiro andar com seu almoço pronto e um enorme copo de água, que lhe entregou. Ela bebeu tudo. Ele puxou a cadeira para ela se sentar e ordenou:


- Coma!


Pela cara e pelo tom de voz, ele já estava sabendo de tudo. Era melhor não contrariar, pensou ela.


Ayla terminou sua refeição sob a vigilância de Murat, que não tirava os olhos dela. Afastou o prato e encarou-o: não fugiria da briga.


- Onde você estava? - perguntou ele.


- Fui resolver um assunto. - respondeu indiferente.


- Que assunto? - insistiu.


- Você é muito curioso. - provocou.


- Você não tem assuntos a tratar com ninguém, Ayla, seu assunto é comigo, com sua família, por isso, não minta para mim nem se faça de desentendida, porque eu não vou tolerar isso. - disse alto e já se levantando.


Ayla também se levantou e retrucou:


- E o que é que você vai fazer? Contar ao meu pai? Para tio Gökse? Não, melhor, conte logo para o vovô, assim ele me troca de universidade! Só que dessa vez, eu tenho uma surpresa para vocês: ninguém me incentivou, eu fiz tudo por conta própria, não vão poder acusar ninguém. – disse, debochada.


- Eu não entendo você. Não entendo esse seu prazer em desobedecer, em criar o caos, em ser do contra. Onde você acha que isso vai te levar?


- Eu não espero que você entenda. Você age como um soldadinho, nunca questiona nada que te mandam fazer. Murat, nossos pais e avô não são os donos da verdade, o mundo mudou, as coisas mudaram e já passou da hora dessa família mudar também.


- É, o mundo mudou, por isso está essa porcaria. - respirando fundo, ele continuou. - Não fuja do assunto, me diga onde você esteve, sem mentiras. – aproximou-se de Ayla. Com um olhar ameaçador, encarou-a, esperando por uma resposta.


- Fui fazer compras, Murat - ela respondeu, encarando-o sem medo.


- Hum! Com quem você foi? - disse sem desviar os olhos.


- Sozinha.


- Acho que fiz a pergunta errada, me deixe formular melhor. - disse com a voz muito tensa. - Com quem você foi se encontrar nesse passeio?


- Com ninguém.


- Mentira! - esbravejou, afastando-se dela.


Ayla ficou desconcertada, sem entender, pois ele falava com muita convicção.


- Murat, eu não estou mentindo. Fui sozinha e permaneci sozinha.


- Ah, jura? Então, de quem é esse número? – perguntou, mostrando o papel que o rapaz na cafeteria tinha lhe entregado.


- Eu fui tomar um café e um rapaz me entregou! O que você queria que eu fizesse? Fosse à mesa dele devolver? Ou que eu dissesse que tinha um primo louco em casa que surtaria se visse isso?


- Ayla... - falou Murat em advertência: ela já estava passando dos limites. Murat respirou fundo e continuou: - Você sabe o que aconteceria se nossos pais soubessem o que você fez hoje?


Ela já estava cansada disso:


- Vá contar, Murat, eu não me importo. Quero mesmo que eles descubram e que percebam de uma vez por todas que ninguém vai me controlar. – disse, aproximando-se dele. - Eu não nasci para ser a garotinha do papai e eles já deveriam ter entendido. E você já deveria ter desistido de tentar me fazer ser quem eu não sou.


- Eu me preocupo com você. – disse, aumentando o tom de voz - Sabe quantas coisas passaram pela minha cabeça enquanto você estava se divertindo? Você poderia ser assaltada ou sequestrada.


- Acho que você está confundindo Istambul com outro lugar.


- Não, Ayla, você é quem não conhece o mundo lá fora. Você vive essa fantasia de ser independente, ser livre, mas liberdade tem limites. Você não consegue seguir as regras da nossa família, como vai seguir as regras da sociedade? Não se vive sozinho. Você sempre vai depender de alguém.


- Acredito que você me deixou voltar a pé para me castigar? - desconversou.


- Você já tinha andado quatro horas seguidas, mais uma não faria tanta diferença. - disse com um meio sorriso - Espero que tenha gostado da paisagem de lá até aqui.


- Você não sabe o quanto eu te odeio, Murat - disse Ayla, estreitando os olhos.


- Nesse momento, eu estou imaginando o quanto. - disse ainda sorrindo.


Ayla tentou pegar o papel das mãos dele, mas Murat foi mais rápido. Do alto, picou todo o guardanapo.


- Prêmio de consolação, Ayla? Hoje não! - disse saindo.






Algumas horas depois, todos jantaram juntos. Murat não disse nada a seus pais, ao contrário: passara todo momento calado. Depois de ajudar a mãe a organizar a cozinha, Ayla foi para seu quarto. Estava bufando de ódio de Murat. Não conhecia ninguém mais inconveniente que ele. O rapaz que lhe dera o número era tão lindo, uma pena ter perdido o telefone dele. Murat era sempre estúpido, ainda bem que nada tinha dito ao seu pai sobre as comprar de hoje. Ayla levantou-se da cama e foi pegar as sacolas dentro do armário. Jogou tudo em cima da cama e foi provar as novas peças. Tinha comprado uma camisa para Murat, verde da cor dos olhos dele, ficaria lindo. Ele não merecia, mas Ayla sempre acabava comprando algo para ele. Foi até o quarto do primo e bateu à porta, ele abriu só até a metade:


- Diga!


Ayla empurrou a porta e entrou.


- Nossa, que mau humor!


- Só com você. O que quer?


- Eu comprei isso aqui para você. – disse, entregando-lhe a sacola - Para você não sair por aí dizendo que eu não sou uma boa prima, que só lhe dou trabalho e preocupações e trá, lá, lá, lá.


Murat abriu e viu a camisa, muito bonita, verde, da cor que ele gostava.


- Você está tentando me comprar? - disse ele, levantando uma sobrancelha.


- Eu não preciso comprar você. As pessoas compram às outras porque têm medo, e eu não tenho medo de nada - dizendo isso, foi se encaminhado à porta para sair. - Ah, não precisa me agradecer!


Murat respirou fundo. Ayla o tirava do sério. S não fosse tão cabeça dura, seria muito divertida. Ela tinha muitos amigos, vivia recebendo ligações e convites para sair; claro, todos eram analisados por ele antes da permissão de seu tio para que ela pudesse participar. Gostava de conversar com ela às vezes, quando estava menos ácida. Deitavam no quarto dele e ficavam olhando o Bósforo pela janela, jogando conversa fora até que acabavam adormecendo.


Hoje ele tinha pensado em um filme para eles assistirem, mas depois da discussão que tiveram, achou melhor desistir. Porém, agora, depois do presente, pensou que não faria mal um filminho. Foi preparar a pipoca para convidá-la.


Murat abriu a porta do quarto de Ayla e encontrou-a em frente ao computador.


- Vamos assistir a um filme? – disse, mostrando a tigela de pipoca a ela.


- Com certeza! - disse ela animada, seguindo-o.


Deitaram na cama de Murat, apagaram a luz e o filme começou. Era um thriller aterrorizante sobre um grupo de amigos que foi parar em uma ilha deserta e, de repente, um deles apareceu morto, e o barco em que eles vieram tinha sumido. Agora estavam presos ali com um assassino.


O filme passou e, vencido pelo cansaço, Murat dormiu. Ayla percebeu e chamou-o:


- Acorda, Murat, você vai perder a melhor parte!


- Amanhã você me conta. - disse já bocejando


Ayla continuou vidrada no filme até que também foi vencida por ele e dormiu.


Murat acordou de madrugada com o barulho do televisor ligado. Pegou o controle, desligando-o. Olhou para o lado e viu que Ayla dormia a seu lado com a cabeça encostada em seu ombro. Ia acordá-la para que fosse para seu quarto, mas, antes, decidiu aproveitar aqueles poucos momentos que tinha com Ayla tão quieta. Observou suas expressões; ela parecia um anjo.


Quando Murat teve que morar com os tios, Ayla, com seus treze anos, estava entrando na adolescência. Muita coisa mudara desde então: sua rebeldia piorou, assim como suas ideias de independência. Ela crescera, adquirira um corpo escultural, cintura fina, quadris largos, longas pernas e pele bronzeada. Seus cabelos estavam sempre bem tratados, longos e negros, tinham um cheiro agradável que sempre ficava em seus travesseiros.


Murat se lembrou da irritação que sentiu ao ver o número de telefone dentro da bolsa de Ayla. Não a queria com ninguém, ela não tinha permissão para namorar, principalmente um desconhecido. Voltou a admirar a beleza dela. Era uma provação. Em outras famílias turcas, o casamento entre primos era comum, mas na sua era proibido. Infelizmente, pois há algum tempo vinha sentindo algo muito específico por Ayla, mas aquilo precisava acabar. Seu avô jamais permitiria algo entre eles.


Ayla gemeu quando que uma brisa fria entrou pela janela. Murat a cobriu com uma manta que estava sobre sua cama.

– Murat? – falou ela, sonolenta.

– Estou aqui. – respondeu – É melhor você ir para seu quarto!

– Não, eu quero ficar, me deixa ficar? – pediu e ele concordou. Abriu os braços e ela se aconchegou a ele. Murat depositou um beijo em sua fronte. Ayla fechou os olhos e suspirou. – Murat, nós sempre brigamos, mas eu te amo!

O coração dele se apertou, pois sabia que o amor dela não era como o seu, não existia paixão por ele; o amor que ela sentia era diferente.

– Eu sei! – disse apenas. – Durma! Amanhã temos mais um longo dia!

E ela adormeceu novamente seguida por ele.





A Fortaleza - Capítulo 3

segunda-feira, 16 de maio de 2016




Ares - O Deus da Guerra 


Ares havia acabado de sair do banho, o telefone que deixara ao lado da cama de Ártemis tocava, olhou o visor e suspirou profundamente, quando o deixariam em paz? Ouviu um barulho e rejeitou a ligação. Olhou além do corredor, Ártemis permanecia deitada no sofá. 


Estava cansado daquilo, não era a primeira vez e tentava não se preocupar, porém a tensão vezes tomava conta de seu corpo. Estava disfarçando bem, mas em algum momento descobririam ou ele mesmo teria que contar, mas não agora, estava entrando em um relacionamento, não queria se afastar de Ártemis, apesar de saber que no momento isso seria o melhor a fazer, pelo menos por enquanto. Mas como poderia por um fim ou um tempo naquilo que com tanto trabalho conquistou? Amava Ártemis, ficar longe dela o machucaria e com, certeza ela não lhe daria uma segunda chance. Não, definitivamente não a deixaria, nem agora e nem nunca seguiria com seus planos, merecia ser feliz. Uma hora ou outra aquilo teria um fim.

O telefone tocou novamente, mas dessa vez havia um nome.

— Alô!

— Ares, quanto tempo. — Disse a voz masculina do outro lado da linha.

— Era você quem estava fazendo chamadas confidenciais? — Perguntou inquiridor.

— Não, por que? — Respondeu um pouco assustado com a grosseria.

— Por nada. — Disfarçou. — Como vai? Está tudo bem? Precisa de alguma coisa?

— Estou bem, só um pouco preocupado com as informações que recebi.

— Que informações?

— Você e Ártemis.

Ares sorriu de canto.

— Não deveria se preocupar, sou a melhor escolha que ela poderia fazer nessa vida.

— Ares, eu não estou brincando, afaste-se dela. O que você pensa que está fazendo, tínhamos um acordo. Você traiu minha confiança.

— Não é nada disso que você está pensando, eu nem sabia quem ela era. Acredite ou não, foi tudo obra do acaso.

— Mas agora você sabe, afaste-se.

Ele suspirou.

— Me perdoe, mas eu não posso. Me apaixonei por ela.

— Você acha que sou idiota, Ares? Está fazendo isso para se vingar de mim, mas não entendo o por que disse se fiz tudo que me pediu.

— Não é do jeito que você está pensando, por favor, acredite. Sei o que disse a você no passado, mas isso não se sustenta, jamais faria mal a ela. Ártemis é uma mulher incrível e eu não posso me afastar. Estou sendo honesto com você, não se aborreça, mas eu a amo. Ela é minha vida Sebastian. Entendo tudo que você fez agora, quando estamos apaixonados comentemos loucuras... — Falou sincero. — Por favor, não tenho nada contra você, para mim foi um amigo me ajudando a salvar o meu irmão, estou a sua disposição para o que precisar, mas não me peça para deixar Ártemis, isso eu não posso fazer, vai além dos meus limites.

Ares ouviu o homem suspirar do outro lado.

— Tudo bem, Ares, mas você sabe que tenho o pior pesadelo da sua família em minha mãos, uma falha sua e o pesadelo se tornará realidade... Mais uma vez.



♖♜___Α Fορταλεzα___♜♖



— Como você está querida? Seu pai está preocupado, faz tempo que não nos falamos! — Disse a mãe de Ártemis ao telefone. Ela desfrutava da companhia de Ares enquanto preparava um café quando seu telefone tocou. Agora ele estava no banho e ela jogada no sofá conversando com a mãe.

— Desculpe mamãe, mas foi falta de tempo. O trabalho e os estudo estão me consumindo! — Nesse momento Ares gritou algo do banheiro e ela respondeu.

— Quem está ai com você? — Questionou. — Algum namorado? — A mãe tinha um "faro" apurado.

— Mais ou menos! — Disse ela.

— Ah! Me conte quem é ele? — Insistiu.

— Não é ninguém mãe!

— É indigente? Não tem nome? Não acredito... — Falou e ouviu a risada da filha.

— O nome dele é Ares, estamos nos conhecendo. Não é nada sério!

— Hum! Ares? Que nome forte. — Disse a mãe. — Você gosta dele? Ele te trata bem?

Ártemis gostava dele, mas não gostava de admitir isso nem para si mesma.

— Ele me trata muito bem!

— Então será bem vindo caso vocês passem do "estamos nos conhecendo". — Disse rindo. — Tudo que quero é que você seja feliz, meu amor.

— Eu sei mamãe e eu estou feliz! — Falou com voz manhosa.

— Que ótimo, espero que muito disso seja mérito de Ares!

— Ele também espera!

— Certo filha, tenha uma boa noite. Juízo, ouviu?! — Recomendou.

— Eu tenho mãe! Boa noite e dê um beijo em papai por mim. — Disse desligando.

Ártemis levantou e se dirigiu ao quarto. Entrou de repente, mas foi obrigada a parar ainda na porta, pois a visão a sua frente paralisou-a. Ares, o seu deus, estava só de toalha, de costas, não via a elevação dela ao admirá-lo. Tinha um corpo magnífico, definido, parecia ter sido esculpido por um artista que almejava a perfeição e que com certeza, obtivera êxito. Alguns pingos de água ainda escorriam pelas costas largas. Os cabelos molhados e desalinhados lhe davam um ar rebelde.

— Vai ficar só olhando? — Voltou a si quando ouviu a voz grave.

Suspirando respondeu.

— Gosto de olhar para você! — Disse se aproximando e removendo a toalha que cobria nudez do homem tão próximo a ela.

— Você costumava ser mais tímida. — Lembrou ele semicerrando os olhos.

— Isso foi antes de você me mostrar os caminhos do amor. — Disse piscando para ele. — Obrigada por isso!

— Foi uma honra. É sempre uma honra amar você. — Ele enlaçou-a pela cintura e beijou-a com paixão, ela segurou o membro livre com as mãos e estimulou-o. Ares gemeu em sua boca e pôs-se a retirar as roupas dela, deitou-a na cama, sentia sua pele em chamas, Ártemis causava um verdadeiro frenesi em seu corpo. A cintura esguia pedia por seus lábios. Os seios de menina eram uma tentação. O cheiro de seu cabelo e pele dominavam seus sentidos. Não conseguia se decidir sobre o que gostava mais na mulher que se derretia em seus braços.

Ela o enlaçou com as longas pernas o trazendo para mais perto de seu ponto íntimo, Ares entendeu o convite e a penetrou ouvindo um gemido rouco escapar de sua garganta. Cheio de desejo amou a sua Afrodite mais de uma vez, queria prolongar sua estadia no corpo de Ártemis. Conhecerá a mulher mais doce do mundo, honesta, bondosa e sensual, almejava tê-la todas as noites.

Amanheceu e Ares ainda a mantinha cativa em seus braços. Ártemis tentou se soltar do abraço, devagar para não acordá-lo, mas não contava com o sono leve do seu deus.

— Fugindo? — Perguntou Ares ainda sonolento.

— Tenho que ir trabalhar!

— Não! Ligue para sua chefe e avise que o dia hoje será todo nosso.

— Até parece! — Disse ela rindo.

— Ártemis? — Chamou ele virando-a em seus braços. — Eu quero que você seja apenas minha.

— Você sabe que não tenho outros. — Respondeu estranhando a questão.

— Não foi isso que quis dizer. — Tentou se explicar. — Estou tentando te pedir em namoro. — Ares riu da sua inabilidade, nunca precisou de um relacionamento, nunca quis estar preso a alguém antes dela. — Quer ser minha namorada, Ártemis? — Falou se sentindo um bobo, mas era aquilo que queria.

Ártemis não acreditava no que estava ouvindo, Ares Dimitriades queria um relacionamento de verdade com ela? — Ergueu uma sobrancelha mostrando toda sua surpresa. Nunca imaginou que isso pudesse acontecer, ele era tão... Livre! Vivia rodeado de mulheres, podia ter uma diferente todas as noites, mas ao invés disso estava pedindo para oficializar seu relacionamento com ela.

— Ares você tem certeza disso? — Perguntou. — Digo, você sabe que um relacionamento tem várias regras, como por exemplo, fidelidade.

— Sei que sempre vivi uma vida desregrada se tratando de mulheres, mas eu sempre fui solteiro, nunca tive, nem nunca quis alguém para amar, respeitar e me dedicar.

— E agora você mudou? Quer um relacionamento e acha que eu sou a pessoa certa? — Questionou desconfiada. — Você não está se deixando influenciar só por que eu já tive algo sério com alguém, não é?

— Não sou criança, Ártemis. — Respondeu. — Não quero um relacionamento só para apresentar alguém aos meus pais ou aos meus amigos. Também não me interesso em ter uma experiência para por no meu "currículo". Pedhaki mou! Quero oficializar o que temos por que te amo. — Declarou-se.

— O que? — Perguntou ela em um sussurro.

— Eu te amo, Ártemis. — Repetiu acariciando o rosto dela. — Te amei desde a primeira vez que te vi e tem sido assim durantes esses dois meses em que estamos juntos. Posso dizer que nunca senti nada tão incrível. Penso em você durante todo o dia, sinto sua falta, se dependesse de mim não sairia do seu lado... Só pode ser amor, não é?

Ártemis estava boquiaberta, não esperava ouvir uma declaração dele.

— Eu não acredito que você ficou surpresa. — Falou Ares sorrindo. — Nunca percebeu? Nunca sentiu meu coração disparar perto de você ou meus lábios ansiosos ao te beijar? Um homem não se comporta assim não estiver apaixonado.

Ela suspirou, nada sabia sobre os sentimentos de Ares, claro que a insistência dele deveria ser levada em consideração, mas ainda tinha muitas dúvidas e medo de encarar um novo relacionamento. Falar em dúvidas, uma estava martelando na sua cabeça, achou melhor esclarecer.

— Ares, eu já lhe falei sobre a situação que estava envolvida. Para mim ainda é difícil pensar em relacionamento. — Disse ela. — De toda forma, eu não quero que você se sinta responsável por mim, não importa o motivo.

Ele entendeu perfeitamente a questão que Ártemis estava tratando ali.

— Não me sinto responsável por ter sido seu primeiro, se é isso que você está insinuando, claro que foi especial para mim, mas não é por isso, não estamos no século passado e você não é uma adolescente. — Disse pondo um fim a questão. — Aceite que eu me apaixonei por você Ártemis, isso não é impossível. Você é uma mulher inteligente, honesta, de bom caráter, linda e sensual. — Falou deslizando as mãos pelas costas nuas da mulher deitada ao seu lado. — Eu te desejo tanto, você me deixa louco. — Ares a beijou fazendo seu desejo renascer, interrompeu o contato apenas para dizer: — Não precisa me responder agora, pense um pouco, eu sei que você também sente algo por mim, não há motivos para fugir disso.


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Mais tarde Ártemis conversava com Dione sobre a proposta de Ares.

— Querida, você precisa deixar o passado no passado e seguir em frente. A vida está sendo generosa com você te retribuindo o bem que você fez a outra pessoa, aceite. Coisas boas acontecem para pessoas boas. — Disse a chefe. — Esse homem te adora Ártemis, dá para perceber pelo sorriso dele quando está com você, e não se preocupe com as outras muitas que ele já teve. — Riu. — Se ele quer você como namorada é por que está disposto a deixá-las para trás. Perceba, o destino está unindo vocês para aprenderem um com o outro, pois, terão que deixar coisas no passado para caminharem juntos. Tente! — Aconselhou. — O que você tem a perder?

Exatamente, não tinha nada a perder. Merecia ser feliz. Ainda muito nova teve que tomar uma decisão sobre sua vida que marcou seu destino, não se arrependia, mas não era aquilo que havia planejado para seu futuro. Sonhava com um homem com idade próxima a sua, que junto com ela construísse uma família, esse homem poderia ser Ares Dimitriades, por que não?


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Pedhaki mou = Querida.




Mistérios... Mistériooosss e mais mistériossss!

A foto do capítulo é do nosso Ares Dimitriades, gostaram?



#Odeusdaguerraémeu





Muito obrigada pelo carinho meus amores! Não esqueçam de dar uma estrelinha ★

Βeijo... Filía ;)

A Fortaleza - Capítulo 2




Magno - O Deus do Olimpo



— Ártemis, — chamou Dione — O deus Dimitriades está lá fora estacionando, é melhor você se apressar. — Ela riu, sua chefe encontrava um apelido para todo mundo, mas desta vez tinha que concordar, deus era um apelido perfeito para Ares Dimitriades, tentava evitá-lo por que sabia que o homem era problema na certa, mas pessoalmente era irresistível. Tinha um sorriso meigo e um olhar devastador. Sabia da reputação dele com o sexo oposto, todas eram apenas amor de uma noite, se bem que com ela estava sendo diferente, já faziam dois meses que eles tinham ficado pela primeira vez, mas, mesmo assim, ele permanecia correndo atrás dela. Não queria se apegar, por que sabia que uma hora ou outra ele se cansaria e cairia fora como fazia com todas, não era baixo estima, apenas tentava ser realista, mas por enquanto iria se permitir um pouco de diversão, sem compromisso, sem regras e sem cobranças.

— Então, aonde vamos? — Perguntou Ártemis já sentada no banco do carona.

— Pensei em um restaurante japonês, você gosta?

— Muito.

Almoçaram conversando sobre coisas do dia a dia, já de volta a faculdade, Ártemis se despediu de Ares com um beijo rápido nos lábios.

— Posso dormir na sua casa hoje à noite? — Perguntou, mas viu uma expressão de dúvida da jovem, então decidiu insistir. — Preciso de você Ártemis. Lembra da última vez? Foi incrível para mim. Quero tudo de novo, quero muito mais de você.

Ártemis lançou um sorriso tímido a ele, e apenas assentiu.

— Ótimo! — Respondeu ele beijando-a novamente.

— Até mais tarde! — Disse ela descendo do veículo.

Ártemis atravessou o ginásio de esportes cortando caminho de volta a Snak, chegou e foi logo vestindo a farda novamente. Atendeu algumas mesas e quando estava levando alguns outros pedidos para a equipe da cozinha viu Dione paralisada olhando fixamente para algo, discretamente virou-se para ver o que estava chamando a atenção da amiga e deparou-se com uma das visões mais belas que seus olhos já registraram, um homem aparentando entre vinte e cinco e trinta anos, pele bronzeada, cabelos pretos e ondulados, olhos de safira que brilhavam como o mar Mediterrâneo sob o sol escaldante, alto, forte, corpo digno dos antigos atletas gregos.

— Esse é o... — Iniciou Dione.

— Magno Dimitriades! — Falou Ártemis em um fio de voz.

— Meu Deus, que genes bendito o dessa família! — Sussurrou. — O outro é um deus, mas esse, com certeza, é dono do Olimpo. O Zeus em pessoa. — Falou Dione ainda abalada com a visão. — Garota você tirou a sorte grande, se não der certo com o Ares você pode investir no irmão que vai servir do mesmo jeito... Ou até melhor.

Nesse momento Magno dirigiu o olhar para as duas que desviaram os seus rapidamente.

— Espero que ele não tenha visto as nossas caras de pré adolescentes que nunca foram beijadas.

Ártemis riu.

— Vou lá atender o seu Zeus.

— Aproveite e pegue o número do telefone dele para mim. — Brincou.

Ártemis se aproximou.

— Boa tarde! — cumprimentou. — Em que posso ajudar?

Magno encostou-se no sofá e a olhou de cima a baixo. Então essa era a misteriosa namorada do irmão. Nada mal para uma suburbana. Corpo curvilíneo, pele aveludada e morena, olhos negros assim como os cabelos, longos e brilhantes. Com certeza, não frequentava nenhum SPA, academias ou salões de beleza, mas mesmo assim dava um "banho" em muitas das mulheres que conhecia. Alta, seu porte era elegante, o sorriso era simpático, emoldurado por lábios delicados. Ares não escolheria qualquer uma mesmo. — Avaliou. — O mal gosto por carros não se aplicava no quesito mulheres. 

— Boa tarde! — Cumprimentou. — Na verdade eu ainda não me decidi. O que você recomenda?

— O hambúrguer duplo é o mais pedido aqui!

— Então vai ser esse e um suco de laranja, por favor!

— Ok! — Disse ela se afastando.

Magno continuou a observar Ártemis, o andar também era muito sensual, seus quadris se moviam suavemente, as pernas longas que o vestido de garçonete fazia questão de mostra-las, com certeza foram feitas para passarelas, estranhamente ela estava ali em uma lanchonete de faculdade. Lembrou que disse ao irmão que a namorada dele deveria ser muito feia, falou apenas para provocar, sabia que Ares escolheria alguém a altura. Ele provavelmente surtaria se soubesse que Magno estava a poucos metros de sua deusa. Ela era bonita, muito bonita, mas nem toda beleza desse mundo fariam Magno implorar o amor ou a companhia de alguém como Ares estava fazendo.

Ártemis não demorou a voltar.

— Aqui está! — Disse entregando o pedido. — Qualquer coisa é só chamar.

— Obrigado, mas para isso precisarei saber seu nome.

Então ele não a conhecia? — Pensou Ártemis. Ares não tinha falado sobre ela ao irmão. Então o que ele estava fazendo ali?

— Me chamo Ártemis! — Respondeu pondo um fim a seus devaneios.

— Magno Dimitriades! — Falou estendendo a mão para cumprimentá-la.

— Eu sei! — Disse com um sorriso. — Você é político.

— Na verdade, meu pai e irmão é que são, eles é quem estão a frente das decisões, eu sou apenas o suplente de um e assessor do outro. — Falou. — Você se interessa por política?

— Gosto de acompanhar, estar a par do que acontece no senado, mas não sou filiada a nenhum partido.

— Entendo! — Disse. — Mas se um dia quiser conhecer melhor as propostas do senado, me ligue. — Falou entregando um cartão a ela. Ártemis observou o papel enquanto Magno se levantava com o hambúrguer nas mãos. Aproximando-se ele cravou os olhos azuis na jovem e intimidador falou: — Será um prazer lhe introduzir a política. — Mordeu o lábio inferior e baixou os olhos para o decote sinuoso do vestido de garçonete. Sorrindo cinicamente se afastou. Já do lado de fora, olhou pela vidraça da janela e sorriu mais uma vez para Ártemis deixando claro as suas intenções. Ela permanecia parada no mesmo lugar, atônita com a atitude dele.

— Ele usou as palavras "prazer e introduzir" na mesma frase? — Perguntou Dione as costas de Ártemis que engoliu em seco. — Como foi que a conversa chegou a esse ponto? 

— Eu não sei! — Disse num fio de voz. — Estávamos falando de política e em outro momento ele mudou totalmente o rumo das coisas. — Ártemis sentiu seu sangue ferver. — Quem ele pensa que é?

— Não sei, mas se sentiu a vontade para dar em cima da cunhada!

— Ele não me conhece. — Esclareceu. — Não sabia meu nome. Não sabe nada sobre mim.

— Talvez! — Dione deu de ombros.

— Como assim? — Disse Ártemis virando-se de frente para a amiga.

— Ele pode estar te testando a pedido do irmão!

— Ares não faria isso, ele não tem motivos. Não sou nada dele e já deixei isso bem claro, estamos apenas nos conhecendo e aproveitando a companhia um do outro.

— Não sei Ártemis! — Falou Dione. — Essa atitude me pareceu muito estranha.

— Talvez seja tudo uma coincidência, duvido que insinuasse algo se soubesse que estou saindo com o irmão dele. — Avaliou inocentemente.


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Magno atravessou a avenida e entrou na limusine que o aguardava.

Segurou o dossiê que foi providenciado pela equipe de Tito a seu pedido, em menos de vinte e quatro horas recebeu os relatórios com todas as informações que precisava sobre a garota. O dossiê mostrava aquilo que ele já desconfiava, seu irmão tinha sido fisgado por uma "caça dotes". Uma mulher que possuía toda aquela beleza exótica, com certeza, não deveria ter dificuldades para executar seus planos. — Pensou ele folheando o documento. — Viu informações relevantes, porém, como havia pedido, queria tudo, absolutamente tudo, cada passo de Ártemis no passado e era exatamente isso que tinha em suas mãos. Pagava bem, exigia perfeição. As informações o levaram a concluir que ela não era tão doce como seu suporto nome, que, aliás, não era citado no documento. — Por que Mel? — Questionou-se, talvez fosse um de seus disfarces, afinal, criminosa que se preze tem um apelido sensual, deveria ser mais uma de suas táticas para fazer os homens de idiotas. Como se sua beleza já não fosse suficiente.

— Achou o que procurava senhor? — Perguntou seu motorista e segurança, Tito.

— Encontrei muito mais do que procurava! — Falou misterioso. — Havia ido ali só para confirmar o que tinha lido no dossiê, precisava vê-la com seus próprios olhos para acreditar que era a mesma pessoa. Depois de tantos anos o destino havia colocado aquela mulher no seu caminho novamente, era inacreditável, mas nos documentos em suas mãos haviam provas irrefutáveis. Ela estava muito diferente, mas se tratava da própria, a senhora Menegaki.

Magno poderia ter se livrado dela ali mesmo na lanchonete, fazer-lhe uma oferta generosa e a ver partir para longe. Poderia ter ameaçado sua família ou simplesmente lhe dito que contaria a verdade para Ares sobre suas praticas ambiciosas. O irmão ficaria enojado, tinha verdadeiro desprezo por pessoas gananciosas graças ao pai.

Mas Magno não faria isso, Ares estava muito envolvido, lhe contar a verdade sobre "sua deusa" o deixaria muito magoado. O melhor a fazer era ridicularizá-la, infernizar sua vida até que nunca mais pensasse em roubar alguém, principalmente velhos moribundos. Seria divertido, queria ver Ártemis espantada com suas palavras muitas outras vezes. Sabia que tudo não passava de encenação, mulheres como ela sabem bem como interpretar vários personagens, se adéquam ao ambiente. Talvez ela contasse ao irmão sobre ele, provavelmente contaria. — Pensou. — Ares logo saberia que ele contatou uma investigação sobre ela e não ficaria nada feliz. Mas estaria preparado, esperaria pela fúria de Ares, a fúria do deus da guerra.

Soltou os papéis no banco e recostou-se. Riu lembrando-se da expressão dela pela sua proposta de "lhe introduzir a política", sem dúvida ficou surpresa, mas não o rejeitou. Ela poderia ter mostrado indignação, mas não o fez. A falta de reação de Ártemis diante da sua investida era muito significativa. Lembrou do seu olhar de interesse quando entrou no local, com certeza ela tinha gostado do que viu. Será que agora estava em dúvida entre ele e o irmão? Se não estava, ficaria em breve, pois, ele estava disposto a tirá-la do caminho de Ares. Os meios justificariam os fins.


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E ai queridas o que acharam? O que será que Ártemis fez para deixar Magno com uma impressão tão negativa a seu respeito?

Muito obrigada pelo carinho meus amores! Não esqueçam de dar uma estrelinha ★

Βeijo... Filia ;)

Shay ✿

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